Teologia da Substituição

O Novo Testamento Ensina a Teologia da Substituição?
Por César Francisco Raymundo*
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"Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos".
- Mateus 21:43

A Igreja não substitui Israel e nem Israel como nação física continua sendo o povo de Deus. Para tentar entender isso basta prestar atenção na palavra grega "ekklesia" usada para Igreja no Antigo Testamento grego (Septuaginta). Desde o começo, Deus tratou a nação física de Israel como Sua ekklesia ou congregação. Portanto, quem olhasse para a nação de Israel, estava vendo Seu povo visível e palpável, mas povo ou Igreja do Senhor são aqueles que a Bíblia chama de “remanescente”. Então, o verdadeiro judeu ou israelita eram os fiéis:

   "Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo".
                                                                                        - Romanos 9:27

   "Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne.
   Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus".
                                                                                    - Romanos 2:28,29

A nação física de Israel era apenas uma casca visível do verdadeiro povo de Deus. É como olhar para uma pessoa. Você apenas vê seu corpo, sua parte externa, mas a essência, a alma invisível e imaterial, é o verdadeiro "eu" que somente Deus tem acesso.

Portanto, nos tempos do Novo Testamento, a Igreja não começa do zero, como se fosse algo novo (como alguns pensam); mas é uma continuação infinitamente mais gloriosa do que foi a ekklesia no Antigo Testamento. Há uma continuidade que sai da nação física. Lembre-se: primeiro o judeu, depois o grego. A ekklesia começa em Israel e termina no mundo gentio.

A antiga nação de Israel está morta para sempre. A antiga Jerusalém jaz na sepultura. A Nova Jerusalém nasce em seu lugar. Isso não é substituição. Apenas renovação do que já existiu, mas de uma maneira mais ampla e Gloriosa. É como a morte do corpo físico que como semente dará continuidade à outro corpo. A pessoa não deixa de ser a mesma pessoa depois da morte, mas ressuscita tornando-se mais ampla. Lamento desapontar a muitos, mas a Israel de hoje não tem absolutamente nada de espiritual, profético ou de destaque. A moderna Israel é como alguém famoso do passado que apenas deixou sua memória documentada, mas seus descendentes são indiferentes a ele apenas levando seu sobrenome. Essa nação moderna criada em 14 de Maio de 1948 apenas leva o nome de "Israel", mas não é o Israel do passado que jaz sepultura desde o ano 70 d.C. Em contrapartida, a Igreja está muito viva e vai muito bem em seu triunfo, pois ela nunca morrerá.

Creio que as promessas da Antiga Aliança foram cumpridas em Cristo e Sua Igreja, e esta Igreja é composta de judeus e gentios. Este é o povo eleito de Deus! O fato é que Deus sempre teve apenas uma oliveira, que apenas continuou na era da Nova Aliança, mas de uma maneira muito mais gloriosa. A nação de Israel no Antigo Testamento era apenas uma sombra, a Igreja como o Israel de Deus é a realidade que a sombra escondia no passado.

O Reino é tirado

Como possível prova de que a Igreja substitui Israel, alguns usam o texto de Mateus 21:33-43 que registra a parábola dos lavradores, ou inquilinos. Jesus descreve o comportamento injusto dos inquilinos e diz qual seria Sua reação como proprietário da vinha:

"Dizem-lhe eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe dêem os frutos".
- Mateus 21:41

Os que defendem que Israel foi substituído pela Igreja afirmam que Jesus concordou e indicou claramente que os lavradores seriam substituídos. Acontece que a vinha que foi plantada e arrendada continua no mesmo lugar até uma determinada ocasião em que os lavradores maus matam o Filho. Ao tirar o Reino deles e arrendar para outros, a vinha e a terra cujo Filho é herdeiro continua a mesma. Não se trata de plantar a vinha em outro terreno, no caso, dos gentios, mas a partir do mesmo local outros vêm e fazem o trabalho corretamente. Foi isto que Jesus quis dizer quando pronunciou "que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no Reino dos céus. Entretanto, os herdeiros do Reino serão lançados para fora, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 8:11-12). Quem é lançado fora? Os incrédulos! Mas o verdadeiro Israel, o judeu de verdade que é circuncidado no coração, este é quem representa de fato Israel.

O Senhor não planta uma Oliveira nova. Mas dá continuidade a Oliveira original. O que acontece é que Israel, como uma nação física e geograficamente localizada no Oriente Médio, perde sua posição abrindo espaço para o mundo inteiro, pois os fiéis agora são herdeiros do mundo:

"A promessa de que seria herdeiro do mundo não veio a Abraão ou à sua descendência por meio da lei, e sim por meio da justiça da fé"
- Romanos 4:13

Portanto, não houve uma substituição dos judeus, mas um complemento do remanescente com os fiéis gentios (agora considerados como judeus de verdade pela fé em Cristo).

Judeus quebrados, gentios enxertados

Alguns dizem que em Romanos 11:1-25 o apóstolo Paulo claramente ensina que os gentios crentes em Jesus substituíram os judeus. Para embasar esse argumento, citam especialmente o verso 17:

"E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira".

Na ilustração acima, a figura de uma "oliveira" representa o povo judeu. Parte de seus ramos foram quebrados "pela sua incredulidade" e em seu lugar foram enxertados ramos provenientes da oliveira brava dos gentios. Observe que "alguns dos ramos foram quebrados", mas a Oliveira original continua para receber enxertos novos, isto é, os gentios. Portanto, não há substituição, mas cotinuação do Israel original agora como "herdeiros do mundo", onde "não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e plenos herdeiros de acordo com a Promessa" (Gálatas 3:28).

Até mesmo os que defendem a Teologia da Substituição concordam que se houve uma susbstituição, foi a dos judeus que não crêem em Jesus como seu Salvador, pois ramos que estão quebrados morrem e são queimados. Sendo Deus misericordioso, os judeus podem ser enxertados com a condição de "se não permanecerem na sua incredulidade" (Romanos 11:23). Sua linhagem de Abraão não significa absolutamente nada (Atos 4:12; Lucas 3:8, João 8:39-43), mas eles podem voltar para o plano, se eles confiarem em Jesus como salvador. Caso contrário, esses judeus incrédulos são substituídos por gentios que acreditam em Jesus, mas jamais a nação espiritual de Israel será substituída.

A Nova Jerusalém

Se a Nova Jerusalém representa a noiva de Cristo (Apocalipse 21:2), então ela substitui a Velha Jerusalém (Babilônia, a Grande) de Apocalipse capítulos 17-18? Uma vez que Cristo não pode ter duas esposas, as duas cidades não coexistem no plano de Deus. O templo da Jerusalém terrena foi destruído, e a cidade tornou-se espiritualmente irrelevante. O pastor Jonathan Welton coloca adequadamente essa questão:

   "Perguntas Frequentes: A Igreja Substitui Israel?

   Não, não estou dizendo que Deus trocou Israel pela Igreja. O que estou mostrando é que a bíblia fala que Deus sempre só fez aliança com aqueles que O seguiam pela fé. No Velho Testamento, isso sempre significou uma porção menor que o todo (ou seja, um pedaço da nação de “sangue”). O remanescente que seguia a Deus pela fé era chamado ekklesia, que significa “os chamados”.

   No Novo Testamento, a palavra grega para “Igreja” é “ekklesia”. Não existe distinção entre Israel e a Igreja. A ekklesia no Velho Testamento tem a ekklesia da Nova Aliança adicionada. A ekklesia da Velha Aliança tem o enxerto dos gentios da Nova Aliança. Existe continuidade perfeita, não tem substituição de uma pela outra. Podemos ter certeza que “todo Israel” não se refere simplesmente a todos os judeus se salvando?

   O apóstolo Paulo é bem claro que a nação de Israel não é a mesma coisa que “todo Israel” em Romanos 11:26 (veja Romanos 2:28 e 29, 9:6 a 8). Aqui estão coisas que confirmam isso:

   - Em Romanos 10:1, Paulo está desejando que seus irmãos fossem
salvos e não garantia isto.

- Paulo disse que, apesar de os judeus serem como areia na praia, só
um remanescente seria salvo (Romanos 9:27).

- Paulo usou condições (“se”) a respeito de os judeus serem reenxertados (Romanos 11:23); não estava expressando uma garantia
de que isso ocorreria.

- De acordo com Deus, não existe judeu ou gentio, todos são o mesmo (Gálatas 3:26 a 29)".[1]

* César Francisco Raymundo é editor da www.revistacrista.org
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Notas

1. Sem Arrebatamento Secreto - Um Guia Otimista para o Fim do Mundo - pg. 152. Autor: Jonathan Welton, Th.D - 2ª edição, Outubro de 2019. Site: www.revistacrista.org